Hellows pessoas, como vão?!
Pois é,
estão vendo o título da postagem de hoje néh...aconteceu comigo na última
consulta que tive ano passado com a médica que faz meu controle de Crohn.
Estava eu lá na espera da médica me chamar, quando meio que já desanimada eu
tentava a todo custo fazer meu fone de ouvido funcionar no celular. Ele sempre
me sabota quando preciso dele e sempre que vou ficar em meio a tumulto, gente
que fica naquele bla bla bla desnecessário para matar o tempo, eu prefiro botar
meu mp3 pra rolar uns sons ou ouvir a 98fm no meu cel.
Acontece
que a porcaria do meu foninho não funcionava de jeito nenhum e pela altura que
todos conversavam lá eu acabava participando das conversas até sem querer. É
incrível como as pessoas não sabem fazer silêncio em ambientes onde o mesmo se
faz necessário. Hospitais são lugares do tipo onde por mais que a gente deseje
e mentalize o silêncio não acontece. O mais engraçado é que deveria ser um
local como igrejas, velórios, etc...silencioso, afinal, as pessoas vão para o
hospital porque não estão bem, mas ainda sim, não estando nada bem, não
conseguem ficar caladas. Enfim.
Estava
eu lá aguardando minha vez quando duas mulheres que estavam num bla bla bla
danado resolveram trilhar o caminho de um assunto que não entendiam e não
dominavam. Tirei esse conceito das ignorâncias estapafúrdias que disparavam e
ao contrario do que você pensa, não, elas sequer demonstraram vergonha sobre
tal ignorância, muito pelo contrário, falavam cada vez mais alto e cada vez
mais com ar de razão, buscando em quem passou a ouvi-las quase que
obrigatoriamente pela quebra de silêncio um “concordo” de olhar que não veio,
porém também não foi protelado e muito menos protestado, mesmo com todas as
caras reprovativas.
Eram mãe
e filha que aproveitavam a ausência da outra filha, esta pelo jeito alguém bem
acima do peso e motivo de toda balburdia criada pelas duas que as duas
tratavam. A mãe atribuía as piores qualidades, se é que posso dizer assim a que
considerava ser a filha vergonha da família, a irmã por vez, se limitava a
concordar com a mãe balançando a cabeça e ora vezes esboçando o mesmo nível de
insatisfação. Pelo que entendi a situação era essa, mãe e filhas magras e essa
filha julgada e condenada como “ovelha obesa”. Ovelha por parte dos pais e
obesa por conta genética mesmo. Confesso que tive dó dessa mulher, voltei 25
anos na minha vida, quando eu era julgada e surrada pelos olhares assim como
ela estava sendo humilhada naquele momento. A própria mãe fazendo piada da
filha, elogios pejorativos e disfarçados em “brincadeirinhas” de um puta mal
gosto, até que ela apelou para a total e completa ignorância de evolução
humana.
Eu, que
estava sentada bem ao lado dela e dividia com ela os olhares das pessoas que
estavam no corredor, algumas silenciosamente indignadas com o que aquela mulher
dizia, outras meramente constrangidas, porém claramente sem jeito, porque você
que está lendo sabe, todo mundo fala de gordo, todo mundo fala de feio, fala de
gay, fala de negro, mas são poucos os que falam sem se intimidar com a presença
da pessoa no local, ou se não for esse o caso dela, ouso dizer que, ela é muito
sem noção.
O fato é
que por ninguém cortar o assunto dela ela foi ganhando espaço e voz no corredor
e quando eu me dei conta percebi que estava na hora de alguém calar aquela
mulher e coincidência ou não, no mesmo momento em que pensei isso ela me veio
com o mais idiota dos conceitos disparados por ela até aquele momento e sem
freios como um cara que acelera feito doido na rodovia ela vira e afirma para
todos que estavam ali, que ela, justamente por ter e conviver com uma filha
gorda, tinha certeza, todas pessoas que são gordas, são gordas porque não tem
educação. Ktcham!
Me
digam, eu aqui durante anos da minha vida me debruçando em leituras de
pesquisas cientificas, acreditando no poder da ciência e ainda sim nesse
quesito discordando dos estudos já divulgados por ela a respeito da obesidade,
vendo e convivendo com pessoas que sofrem de obesidade mórbida não provocada
por dietas a base de mc donalds e donuts como os americanos; gordos que assim
como eu sempre tiveram alimentação saudável, de muita fruta, verdura, legumes,
e todos esses bla bla blas que a ciência e cultura social espalha por aí ser
bom, gordos que não como eu, já que eu assumo publicamente que embora não coma
o tanto que você provavelmente imagina em termos de quantidade para estar do tamanho
que estou, faço tudo errado, como com longo espaço de tempo, não faço exercício
e gosto, gosto muito de comer, como de tudo e mesmo hoje bem restrita no
quesito alimentação por conta do Crohn, não me sinto privada de comer e não me
sujeito a deixar de comer (só realmente o que não posso por causa da doença)
nada em nome de beleza ou magreza social estipulada.
A mulher
não sabe, mas tenho certeza que se a filha dela come mais ou ganha peso
desmedidamente sob mínimos exageros, ela tem boa parte dessa culpa, afinal ela,
até por não aceitar a condição e biótipo da filha, deveria ser a primeira a
estimular e incentivar positivamente a filha e principalmente por ser mãe
deveria é defender e amar incondicionalmente essa filha e não usá-la como apoio
de copo dos goles de zombaria que toma as custas da filha.
Você
deve estar aí pensando se eu consegui me manter calada mesmo depois dessa
asneira escarrada na minha roupa. Claro que não! Até esse momento eu confesso,
estava com pouco saco para discutir qualquer assunto com esta senhora. Eu tenho
essa mania de estabelecer diálogos ou discussões mentais com pessoas com quem
me reservo ao direito de ignorar qualquer manifestação que demonstre que eu
sequer estava ouvindo-as, mas essa hora foi demais pra mim, que não fosse por uma
questão de honra, já que querendo ou não ela me incluía nesse meio, seria ao
menos para calar aquela boca de asneiras sem fim, e foi o que eu fiz.
Ela
tomou um susto quando surgi no assunto, virei meu corpo e rosto para seu lado;
acho que por minutos de atenção do grupo que ali estava, ela tinha se esquecido
ou não percebido que dentre aquelas pessoas que ali havia uma gorda, uma pessoa
beeeem acima do seu chamado e nomeado peso e que pasmem, ousava povoar aquele
ambiente trajando um vestido franzido e se isso não lhes causasse repulsa
suficiente era uma gorda que falava. Horrorizados demais? Vocês não viram nada.
Eu não
estava com a menor vontade de manter um diálogo com aquela mulher, era não
merecia que eu dividisse com ela meus conhecimentos, sei que pareço arrogante
quando falo assim, mas se quer saber, fodas, ela pode ficar ali escarrando sua ignorância
na minha roupa nova e quando sou eu que quero falar ou me calar não posso. Me
polpem!
Só emiti
uma única resposta, nem lembro mais o que falei se querem saber a verdade, só
sei que quando falei, consegui calar aquela mulher. O que eu mais gosto em mim
é o meu tom de voz e não tenho modéstia sobre isso. Tenho uma entonação que
passeia muito bem entre o sério esporrádico e o humor debochado, escrachado e
sarcástico, então quando quero ser séria do tipo “essa é para calar a boca e o
assunto” consigo fazer isso sem baixar o nível ou precisar gritar para me
destacar na multidão, é só abrir minha boca e falar pausadamente para quem
ainda não conseguir entender ir desenhando o que falo na mente, e foi o que eu
fiz. Respondi aquela senhora como não costumo fazer com pessoas mais velhas que
eu, mas do jeito que ela merecia por ser tão preconceituosa e discriminar por
ser diferente do que ela esperava, a própria filha. Como um cervo tentando se
soltar das presas de um tigre, ela tentou se desvenciliar e até me excluir do
grupo ao qual acabava de me incluir nas suas generalizações, mas já era tarde,
a sua jugular estava destrinchada entre meus dentes já escondidos num suave
sorriso de “agora somos eu e você” e o silencio foi tomando conta do ambiente,
os burburinhos foram se acalmando e o assunto acabou.
Serenamente
voltei-me para o sentido da minha cadeira, direção da porta da médica, ajeitei
meu vestido nos joelhos e coloquei meus fones de ouvido que ainda não
funcionavam e fingi voltar a ouvir uma música que só tocou na minha mente. A
médica abriu a porta, se despediu do paciente que saía do consultório e chamou
o próximo. Paralelamente a porta ao lado se abriu e a nutricionista chamou uma
delas, a filha, mas a mãe que a acompanhava já também não vendo que lhe cabia
lugar por ali se levantou e antes mesmo que a nutricionista a pedisse que
aguardasse lá fora, foi entrando e se sentando e a porta se fechou.
Junto
com a saída daquela mulher foi-se uma sensação de coação que ainda pairava no
ambiente. Notei alguns suspiros de gente que mesmo não concordando se viu
aliviado por não ter mais que manter a diplomacia e educação que preferiram
optar para não ter de confrontar com alguém que possivelmente não os ouviria e dividi
com eles olhares de outros que silenciaram mas engoliram a seco minha resposta,
por concordarem com tamanha ignorância daquela senhora.
Mesmo
passado minha consulta eu saí dali ciente de que falta muito, tipo muito mesmo,
muito do tipo divisão era jurássica e atual para as pessoas entenderem o que
não entendem e compreenderem que a graça do mundo e das coisas que habitam a
terra esta em ser diferente e não igual.